É coisa do passado!

Certa vez, disse um integrante de certo movimento que não tem terras para cultivar e viver sobre o desflorestamento da Amazônia: "A Amazônia agora é que está nos 'trinques'. Temos terras à vontade para plantarmos o que quisermos. Antes só tinha bicho e mato que só atrapalhavam a evolução da reforma agrária do país".

A louvável afirmativa do camarada nos remota a uma atualidade próxima dos novos ideais. Realmente a fauna deixa seus rastros de extinção. Bem feito pra ela. A flora? Que flora? Isso é coisa do passado! Sejam bem-vindos a nova era da Reforma Agrária, tão planejada pelo Governo da estrela, tão esperada pelo Movimento dos Sem-Algo-Melhor-Para-Fazer. Estamos todos agora prontos a receber, de braços abertos (e pulmão artificial, porque respirar é coisa do passado também) um novo processo, capaz de gerar terra para todos, sem a necessidade de cálculos territoriais, índices disso e daquilo outro que prejudica a natureza, burocracias políticas que impedem as concessões de terra para os “super-heróis agrários”. A natureza é coisa do passado! É tudo coisa do passado! Beber água? Coisa do passado. Comer frutas? Coisa do passado? Animais livres na floresta? Xiii... Coisa do passado.

A natureza não serve para nada mesmo. Vamos dividí-la "igualmente”, e deixar que as Pontifícias Indústrias, as santificadas criações de gado tomem conta do Brasil. Pra quê verde? Eu quero é cenário cinza, preto, marrom-escuro-bordô. Qualquer cor que retrate a nova paisagem nacional, sem aquele mato inútil e aqueles bichos sem função. Viva a Reforma Agrária como ela deve ser feita!